Se uma pessoa disse “sim” pro chá que você ofereceu na vizinhança da sua casa no último sábado, isso não significa que essa pessoa queira que você lhe faça chá o tempo todo. Ela não quer que você apareça inesperadamente na casa dela pra fazer chá pra ela e forçá-la a beber, enquanto você diz “Mas você quis chá na semana passada!” Mas se você pode entender como completamente ridículo é forçar as pessoas a tomarem chá quando elas não querem chá, então como é que é tão difícil entender quando se trata de sexo?
Texto de Emmeline May (traduzido por Arthur Catraio)
O consentimento tem sido muito discutido recentemente, com campus universitários em Nova York impondo regras afirmativas de consentimento em Setembro de 2014, e com o sucesso de bilheteria atual de Cinquenta Tons de Cinza, um filme que faz com que a falta de consentimento pareça ser sexy.
No Reino Unido, já existe mais ou menos o designado “consentimento afirmativo”. É por isso que o atleta britânico Ched Evans foi condenado por estupro em 2012, mas não o seu co-réu: documentos judiciais mostram que o júri considerou razoável acreditar que a vítima tinha consentido ao coito com o co-réu, mas não com o homem aleatório que apareceu para participar no meio da transa: Evans. No entanto, a cada vez que um artigo é escrito sobre consentimento, ou sobre uma ação tomada pelo(a) iniciador(a) da relação sexual para garantir que a pessoa que está transando com ele(a) realmente queira, surge uma onda de comentários e críticas.
Parece que um monte de gente realmente ainda não entendeu o que o “consentimento” significa.
A partir da reivindicação do parlamentar britânico, George Galloway, que “nem todo mundo precisa ser questionado antes de cada interpenetração,” ou da reivindicação do estudante da Universidade de Illinois que alegou pensar que ele iria surpreender a sua parceira com sexo não-consensual (BDSM), parece que algumas pessoas têm um verdadeiro problema em entender que antes de transar com a/o parceira(o), e isso quer dizer todas as vezes que tiver relações sexuais com ela(e), é necessário ter certeza que ela(e) quer transar com você. Isso vale para homens, mulheres, todos. Apenas certifique-se que a sua parceira/seu parceiro realmente, genuinamente, quer isso.
Se você ainda tem dificuldade em entender como fazer isso, basta imaginar que, em vez de iniciar uma relação sexual, você vai preparar uma xícara de chá.
Você diz: “Ei, você gostaria de uma xícara de chá?”
Se a resposta for: “Sim, eu adoraria uma xícara de chá! Obrigado! “, então você sabe que a pessoa quer uma xícara de chá.
Se você diz “Ei, você gostaria de uma xícara de chá?”, e a pessoa hesita antes de dizer: “Eu não tenho certeza”, então você pode preparar uma xícara de chá ou não, mas esteja ciente de que a pessoa pode não beber.
Se eles não beberem—e esta é a parte mais importante—então não faça eles beberem!
Você não pode culpá-los pelo fato de você ter se esforçado em preparar o chá, ciente de que eles poderiam não querer. Você apenas tem que lidar com o fato deles não beberem; que você faça o chá, não significa que você tem o direito de esperar que eles bebam.
E se eles disserem: “Não, obrigado”, então não prepare o chá pra eles. Não faça nada. Não faça o chá; não faça com que eles bebam o chá; não se irrite com eles pelo fato de não quererem chá. Eles só não querem chá, ok?
Eles podem dizer, “Sim por favor, é muito gentil da sua parte.” E então quando o chá chega, eles podem não querer mais. Com certeza, isso é chato, já que você já preparou o chá, mas eles não ficam sob nenhuma obrigação de tomar o chá. Eles queriam o chá antes, agora já não querem mais. Às vezes as pessoas mudam de ideia durante o tempo que leva para esquentar a chaleira, colocar o chá e adicionar o leite. E está tudo bem se as pessoas mudarem de ideia. Você ainda não detém o direito de fazê-las beber o chá.
Se elas estão inconscientes, não prepare o chá pra elas. Pessoas inconscientes não querem chá e não podem responder à pergunta, “Você quer chá?” devido ao fato de estarem inconscientes.
Elas podiam estar conscientes quando você perguntou se elas queriam chá, e elas disseram que sim. Mas no tempo que você levou para ferver a chaleira, preparar o chá e adicionar o leite, elas ficaram inconscientes. Neste caso você deve apenas colocar o chá de lado, certificar-se de que a pessoa inconsciente está segura, e—este é o passo mais importante—não a faça beber o chá. Elas disseram que sim antes, ok, mas as pessoas inconscientes não querem chá.
Se uma pessoa afirmou querer o chá, começou a beber e, em seguida desmaiou antes de terminá-lo, não continue despejando chá na garganta dela. Leve o chá para longe e certifique-se de que ela está segura. Porque pessoas inconscientes nunca querem chá. Confie no que estou dizendo.
Se uma pessoa disse “sim” pro chá que você ofereceu na vizinhança da sua casa no último sábado, isso não significa que essa pessoa queira que você lhe faça chá o tempo todo. Ela não quer que você apareça inesperadamente na casa dela pra fazer chá pra ela e forçá-la a beber, enquanto você diz “Mas você quis chá na semana passada!” Ela não quer acordar e encontrá-lo servindo chá em sua garganta, dizendo “Mas você queria chá ontem à noite!”
Será esta uma estúpida analogia? Sim, você já sabe disso—é claro, você não iria forçar uma pessoa a beber chá só porque ela disse que sim a uma xícara na semana passada. Claro, você não iria despejar o chá na garganta de uma pessoa inconsciente só porque eles disseram que sim pro chá há cinco minutos atrás. Mas se você pode entender como completamente ridículo é forçar as pessoas a tomarem chá quando elas não querem chá, e você é capaz de entender quando as pessoas não querem chá, então como é que é tão difícil entender quando se trata de sexo?
Seja no chá ou seja no sexo, o consentimento é tudo.
Texto de Emmeline May, blogueira sediada em Londres, Reino Unido, escreve sobre assédio de rua, positividade do corpo, igualdade de gênero e atualidades. Ela bebe muito chá. Traduzido por Arthur Catraio.
Texto original em inglês: http://rockstardinosaurpirateprincess.com/2015/03/02/consent-not-actually-that-complicated/
oi kkk sexo